Welson
Gasparini
Ocupei a tribuna da ALESP na semana passada para dar, aos meus colegas
deputados e aos telespectadores da TV Câmara, uma notícia auspiciosa, divulgada
com destaque pela imprensa: um interno da Fundação Casa tornou-se finalista da
Olimpíada de Língua Portuguesa, na categoria poema. O fato é significativo
porque referida olimpíada, promovida pelo Ministério da Educação e pela
Fundação Itaú Social, reúne alunos das escolas publicas de todo o pais. Para participar da segunda etapa do concurso (a semifinal, realizada em
Belo Horizonte), esse interno teve autorização judicial para viajar de avião (e
pela primeira vez na sua jovem vida) acompanhado pela professora de português
Maria da Penha Silva. Ao citar o nome da professora, fiz questão de destacar o
carinho e a atenção por ela dedicados aos seus alunos da Fundação Casa. O
incentivo do jovem premiado veio dessa professora da rede pública do estado de
São Paulo, há 12 anos lecionando nas unidades da Fundação Casa.
É uma noticia que relatei com prazer porque, infelizmente, como regra
geral, o que aparece na imprensa são notícias negativas, principalmente as
relacionadas com a Fundação Casa (a antiga FEBEM, de tão triste memória...) e
dos presídios em geral.
Tenho defendido - e já falei disso com o governador Geraldo Alckmin – a
instalação pelo Estado de escolas profissionalizantes nas unidades prisionais,
assim como na Fundação Casa. Isso é muito importante. No Brasil foi feito um
levantamento e concluiu-se: 60% das pessoas presas no Brasil são analfabetas.
Às vezes estão condenadas a cinco, dez, quinze anos de prisão e, no entanto,
ficam sem fazer nada o dia todo, dedicadas a um ócio pernicioso.
Para homenagear a professora e esse jovem interno da Fundação Casa, fiz
questão de ler – e agora o reproduzo – o poema com o qual ele foi finalista
desse concurso nacional:
“Viver na Fundação não é bom
Bom é ser livre em toda situação
Mas tenho minha opinião
Sobre esse período de transição
Que muitos dizem ser prisão.
Nesse lugar, maldade...
Que ao mesmo tempo é saudade
Por estar privado de liberdade
Mas tem um lado positivo
Nessa realidade
Estou me reabilitando para a sociedade.
Acordo e vejo grades
Meu peito dói de verdade
Só quem passou
Por isso sabe
De todas as realidades
E crueldades...
A maior necessidade
É a Liberdade!
Aqui lições de vida transmitem
Muitas coisas boas
Reconhecimento como pessoa
Que errar é humano
Mas aprender é a melhor coisa.
Atrás desses momentos tem algo impressionante
Hoje me tornei um estudante
Descobri que sou inteligente
Produzi este poema e me sinto importante.”
Não é uma beleza uma manifestação dessa natureza?
Os fatos positivos, acredito, merecem e devem ser destacados.
Esse jovem, detido na Fundação Casa, foi condenado por tráfico de
drogas, mas percebe-se pelo teor do seu poema, estar num processo de
efetiva recuperação.
Parabenizo o governador Geraldo Alckmin pela atuação dessa professora
que, certamente, segue uma orientação da direção da Fundação Casa. Precisamos
muito de pessoas, como ela, idealistas e competentes no trabalho de recuperar
para a vida em sociedade os jovens internos da Fundação Casa.
O exemplo desse jovem, não tenho duvida, é dos mais dignificantes...