segunda-feira, 10 de novembro de 2014

UM EXEMPLO DIGNIFICANTE


Welson Gasparini

Ocupei a tribuna da ALESP na semana passada para dar, aos meus colegas deputados e aos telespectadores da TV Câmara, uma notícia auspiciosa, divulgada com destaque pela imprensa: um interno da Fundação Casa tornou-se finalista da Olimpíada de Língua Portuguesa, na categoria poema. O fato é significativo porque referida olimpíada, promovida pelo Ministério da Educação e pela Fundação Itaú Social, reúne alunos das escolas publicas de todo o pais.  Para participar da segunda etapa do concurso (a semifinal, realizada em Belo Horizonte), esse interno teve autorização judicial para viajar de avião (e pela primeira vez na sua jovem vida) acompanhado pela professora de português Maria da Penha Silva. Ao citar o nome da professora, fiz questão de destacar o carinho e a atenção por ela dedicados aos seus alunos da Fundação Casa. O incentivo do jovem premiado veio dessa professora da rede pública do estado de São Paulo, há 12 anos lecionando nas unidades da Fundação Casa.
É uma noticia que relatei com prazer porque, infelizmente, como regra geral, o que aparece na imprensa são notícias negativas, principalmente as relacionadas com a Fundação Casa (a antiga FEBEM, de tão triste memória...) e dos presídios em geral.
Tenho defendido - e já falei disso com o governador Geraldo Alckmin – a instalação pelo Estado de escolas profissionalizantes nas unidades prisionais, assim como na Fundação Casa. Isso é muito importante. No Brasil foi feito um levantamento e concluiu-se: 60% das pessoas presas no Brasil são analfabetas. Às vezes estão condenadas a cinco, dez, quinze anos de prisão e, no entanto, ficam sem fazer nada o dia todo, dedicadas a um ócio pernicioso.
Para homenagear a professora e esse jovem interno da Fundação Casa, fiz questão de ler – e agora o reproduzo – o poema com o qual ele foi finalista desse concurso nacional:

“Viver na Fundação não é bom
Bom é ser livre em toda situação
Mas tenho minha opinião
Sobre esse período de transição
Que muitos dizem ser prisão.

Nesse lugar, maldade...
Que ao mesmo tempo é saudade
Por estar privado de liberdade
Mas tem um lado positivo
Nessa realidade
Estou me reabilitando para a sociedade.

Acordo e vejo grades
Meu peito dói de verdade
Só quem passou
Por isso sabe
De todas as realidades
E crueldades...
A maior necessidade
É a Liberdade!

Aqui lições de vida transmitem
Muitas coisas boas
Reconhecimento como pessoa
Que errar é humano
Mas aprender é a melhor coisa.

Atrás desses momentos tem algo impressionante
Hoje me tornei um estudante
Descobri que sou inteligente
Produzi este poema e me sinto importante.”

Não é uma beleza uma manifestação dessa natureza? 
Os fatos positivos, acredito, merecem e devem ser destacados.
Esse jovem, detido na Fundação Casa, foi condenado por tráfico de drogas, mas percebe-se pelo teor do seu poema, estar num processo de efetiva  recuperação.
Parabenizo o governador Geraldo Alckmin pela atuação dessa professora que, certamente, segue uma orientação da direção da Fundação Casa. Precisamos muito de pessoas, como ela, idealistas e competentes no trabalho de recuperar para a vida em sociedade os jovens internos da Fundação Casa.
O exemplo desse jovem, não tenho duvida, é dos mais dignificantes...

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