Welson
Gasparini
O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo
Tribunal Federal (STF), reafirmou no último dia 28, ao receber os deputados que
comandam a comissão especial formada na Câmara Federal para analisar as
acusações contra a presidente Dilma Roussef uma expressão já usada
anteriormente por outros ministros daquela corte (entre tais Toffóli, Carmem
Lucia, Lewandowski, Gilmar Mendes e Celso de Mello): "impeachment não é
golpe; é um mecanismo previsto na
Constituição para afastamento de um presidente da República". Segundo o
presidente do STF, Lewandowski “golpe é uma expressão que pertence ao mundo da
política e nós aqui usamos apenas expressões do mundo jurídico”.
A queda de Fernando Collor de Mello,
sacramentada pelo Congresso Nacional e sob a mais estrita legalidade
constitucional em 1992, teve entre seus mais ardorosos defensores o Partido dos
Trabalhadores, na linha de frente dos protestos pelo impeachment, ao lado de
outras legendas políticas e entidades como a União Nacional dos Estudantes, a
Ordem dos Advogados do Brasil e a Associação Brasileira de Imprensa. Anos
depois, durante os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso, novamente o PT liderou
manifestações cujo mote era “Fora FHC e o FMI”, em referência ao Fundo
Monetário Internacional.
A história agora, de modo inverso, se
repete: na medida em que o escândalo das
propinas da Petrobras foi ficando mais e mais cabeludo, vários grupos, não
necessariamente vinculados a partidos políticos, percorreram ruas de várias
cidades e capitais brasileiras (inclusive Ribeirão Preto) com o refrão “Fora
Dilma”, “Fora PT”. A reação do PT e da própria presidente a essas manifestações
evidencia total incoerência em relação à visão que o partido tinha das
mobilizações das quais foi protagonista no passado. “Golpista” é o adjetivo
mais usado pelo PT e seus aliados englobando, nessa qualificação, os milhões de
brasileiros que se cansaram de tanta incompetência, tanta corrupção, e foram às
ruas manifestar seu inconformismo.
O impeachment é um instrumento legal e legítimo
nas melhores democracias e se aplica aos governantes que cometam crimes de
responsabilidade, adotando condutas atentatórias à Constituição ou à probidade
administrativa. Não pode, assim, ser visto como golpe se o impeachment proposto
provar que ela sabia, se beneficiou ou nada fez para conter a corrupção no seio
do seu governo.
A legalidade
do impeachment foi defendida, em
entrevista concedida à imprensa internacional,
no último dia 29 de março, pelos
presidentes do PSB (Carlos Siqueira),
PSDB (Aécio Neves), PPS (Roberto Freire), DEM (Agripino Maia) e Solidariedade
(Paulinho da Força) que acusaram a presidente Dilma de ser irresponsável ao
mentir que há em curso uma tentativa de golpe de Estado no Brasil, enfatizando
a legitimidade do pedido de impeachment
tramitando na Câmara como uma iniciativa
da sociedade civil – apoiada pela Ordem dos Advogados do Brasil – tendo entre
seus autores o jurista Hélio Bicudo, um
dos fundadores do PT.
Um fato é inegável: o PT chama, agora, de
“golpe” o que antes chamava de “retrocesso”. Simples assim!
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