Welson Gasparini
Quando Ribeirão Preto completa 159
anos não posso deixar de rememorar a vida vivida naquela cidade desde quando,
mocinho ainda, na busca de um lugar onde pudesse ter melhores oportunidades de
trabalho e de estudo, deixei a minha Batatais. Já se passaram, de lá para cá,
mais de 60 anos e minha vinda não foi direta: nos primeiros tempos, já matriculado
no curso normal do Instituto de Educação Otoniel Mota (na avenida 9 de julho),
eu vinha e voltava todos os dias. Naquela altura eu já era órfão de pai (meu
pai, Victório Gasparini, faleceu muito moço ainda) e morava com a minha mãe,
dona Deolinda e minha irmã Terezinha. Meus irmãos, mais velhos, já tinham
tomado rumo em suas vidas: Ampélio cursava a Academia de Polícia, da qual
sairia como oficial da PM e Alpheu, já formado professor, lecionava em escolas
de Ipuã e São Joaquim da Barra; Geraldo, Djalma e Wilson também seguiam voos
solos.
Meus primeiros tempos em Ribeirão
Preto – então uma cidade de porte médio, com pouco mais de 100 mil habitantes –
foram de expectativas que a própria vida haveria de superar. Eu era jovem, tinha todas as ambições próprias
da idade, mas ainda não tinha emprego. Por sorte, minha mãe ouviu a Zyr-79
anunciando que estava realizando concurso para contratação de locutores e me
disse: ”você tem uma leitura fácil, porque não tenta?” Fiz o teste e fui
contratado juntamente com o Domingos Isaac (que acabou se elegendo vereador e
sendo o vice-prefeito de Antônio Duarte Nogueira no seu primeiro mandato como
prefeito de Ribeirão Preto). Mais algum tempo e uma outra porta me foi aberta
pelo “Diário de Noticias”, jornal da arquidiocese de Ribeirão Preto: ainda
ligado a Batatais, sabendo de um jogo entre o time batataense com o São Paulo
FC, procurei o Braulio Geraldo, redator daquele jornal, solicitando-lhe credencial
para entrar no jogo, naturalmente sem pagar o ingresso. Vai daí que, nesse dia,
o então governador Jânio Quadros visitava a cidade: aproveitei para
entrevista-lo, pedindo-lhe inclusive uma mensagem para Ribeirão Preto. Jânio,
muito gentil, chamando-me de “menino”, deu-me uma entrevista que levei,
ocupando várias laudas, para o jornal; quanto ao jogo, limitei-me ao relato
básico. O pessoal do jornal gostou e fui convidado para nele trabalhar como
repórter.
Do jornalismo para a política foi um
passo: empolgado com as ideias da Democracia Cristã, expressas no Brasil
através da liderança do ex-governador Franco Montoro, ingressei no Juventude Democrata Cristã e, em 1958, disputei e venci
a eleição para vereador de Ribeirão Preto; dois anos depois, fui candidato a
deputado estadual mas não obtive a quantidade necessária de votos para me
eleger; entusiasmado, entretanto, pela votação então recebida atrevi-me a um
passo maior, numa missão praticamente
impossível: em 1963 disputei a Prefeitura, venci e comecei, então, a trabalhar em prol de uma
Ribeirão Preto melhor, incluindo a construção de praças e a abertura de avenidas que ainda hoje tanto amenizam e
facilitam a vida dos ribeirão-pretanos.
Ribeirão Preto, em resumo, é uma
cidade a qual tudo devo e tudo o que puder fazer em retribuição será pouco; uma dívida que a cada
ano cresce mais e nunca conseguirei
pagá-la!
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