Parece um paradoxo, mas não é: entre os riscos
para a saúde do brasileiro está, por incrível que possa parecer, o próprio
médico...
É o que pode deduzir de um fato indesmentível:
dos 2.891 recém-formados em medicina que fizeram, em outubro do ano passado, o exame
do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), 55% do total
(1.589 estudantes) foram reprovados. O índice é menor do que o registrado no
ano anterior, quando 59,2% não acertaram o mínimo exigido (60% das questões) e
foram reprovados. Mas foi maior do que em 2012, índice de 54,2% de reprovados.
Todo estudante formado em medicina, para se
inscrever no conselho paulista, precisa fazer o exame para poder tirar o
registro do CRM (Conselho Regional de Medicina) e atuar como médico no estado.
Apesar de ser um exame obrigatório, mesmo quem for reprovado pode obter o registro.
É que, por força de lei, o conselho não pode condicionar o registro médico ao
resultado de uma prova. Para tanto, seria preciso uma lei federal, como
acontece com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), onde o bacharel reprovado é
impedido de exercer a advocacia.
O exame do Cremesp, cujos resultados foram
divulgados no final do último mês de janeiro, apontou também que a reprovação
foi maior entre os formados em instituições de ensino privadas (65,1%);
entre os alunos de escolas públicas, o
índice foi de 33%. Segundo critérios da Fundação Carlos Chagas (FCC), que
aplicou o exame, 33% das questões foram consideradas "fáceis"; 4,6
eram "muito fáceis" e 32,4%, "médias". As demais questões
(29,6% do total) eram "difíceis". Recém-formados erraram questões básicas
sobre atendimento inicial de vítima de acidente automobilístico, de ferimento
por arma branca, de pneumonia, pancreatite aguda e pedra na vesícula; dois a
cada três candidatos erraram o diagnóstico de uma lactante de seis semanas com
tosse leve há dez dias, sem febre e com a respiração acelerada. Este mesmo
percentual não soube avaliar o risco operatório para uma mulher com pedra na
vesícula, diabética, hipertensiva e com histórico de angina (estreitamento de
artérias que provoca dor no peito) durante esforços moderados.
Lamentavelmente, o exame do CREMESP revela uma
realidade muito mais grave: a má qualidade do ensino brasileiro onde, conforme
já afirmei em artigos anteriores, com louváveis exceções, os professores fingem
que ensinam, os alunos fingem que aprendem e o resultado é a formação de
profissionais desqualificados – no caso, por exemplo, dos médicos - para atender as necessidades da população
brasileira. É um quadro que só será revertido quando a educação – em todos os
níveis - passar a ser vista como uma verdadeira prioridade. Precisamos seguir,
reitero, o exemplo de países (a exemplo da Coréia do Sul, da Índia, da China e
de tantos outros) que deram a volta por cima através do aprimoramento do
processo educacional; a educação, insisto, é um alimento fundamental que não
pode faltar na formação da criança e do jovem que queira, pelo próprio esforço,
vencer na vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário