terça-feira, 26 de agosto de 2014

UMA CRISE SEM PRECEDENTES



Welson Gasparini

 Em discurso recentemente pronunciado na tribuna da ALESP focalizei, ainda uma vez, a crise sem precedentes enfrentada pelo setor sucroalcooleiro com o fechamento de mais de 60 usinas desde 2008 e a perda de cerca de 60 mil empregos. São dezenas, por outro lado, as usinas de açúcar que solicitaram a chamada recuperação judicial. Para se ter uma ideia da gravidade da crise, segundo dados do Ministério do Trabalho, só nos primeiros seis meses deste ano o setor sucroalcooleiro registrou a queda de um terço no número de contratações.
Na indústria de bens de capital, representada por fornecedores de usinas – e Sertãozinho é expoente nessa negatividade - mais de 50 mil postos de trabalhos foram encerrados e houve, desde 2010, uma queda de 50% no faturamento. Tudo isto enquanto mais de 90% da colheita de cana no estado de São Paulo já é mecanizada; 90% dos carros nacionais vendidos são flex e o estoque gira em torno de 77% do total.
A produção de energia elétrica, a partir do bagaço de cana, por outro lado, vem ajudando o setor a aliviar um pouco a  grave crise; a energia vendida à rede pública  respondeu por 12% do consumo residencial do país e, nas usinas, já representa entre três e quatro por cento do faturamento bruto.
O que desejo – e isto faz parte da pauta permanente da Frente Parlamentar de Defesa do Setor Sucroalcooleiro da qual sou um dos coordenadores – é o governo federal assumindo suas responsabilidades diante de uma situação cuja culpa lhe é devida.  Já tivemos, anteriormente, uma outra crise, igualmente muito séria, logo após quase todos os carros do país, estimulados pelo governo federal, usarem o alcool como combustível, na euforia do “ProAlcool”. Depois, infelizmente, o governo mudou o enfoque e o setor passou a enfrentar graves problemas econômicos e sociais. O sucesso foi sucedido pelo fracasso devido a miopia do governo federal que, infelizmente, continua insistindo em fazer uso político do preço da gasolina, deixando de remunerar condignamente o esforço dos produtores de cana de açúcar e dos usineiros.
Agravando esse quadro, já em si tétrico, nos últimos tempos canaviais, ainda não prontos para a colheita, sofreram incêndios criminosos pelo quais foram responsabilizados os plantadores da cana-de-açucar, muitos deles recebendo multas severas por terem “provocado” incêndios. Por que o produtor faria isto se a lei proíbe e não era o tempo da colheita? Se a cana, sequer, estava pronta para ser colhida?
Já está passando da hora do governo federal reconhecer o setor sucroenérgico como de grande importância para a vida nacional, daí o meu reiterado apelo; o Brasil como um todo clama por uma definição clara capaz de dar aos empresários, aos trabalhadores rurais, aos proprietários rurais e aos industriais segurança quanto ao futuro de seus investimentos numa área que gera tantos empregos e tanta estabilidade social ao próprio país. 

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