sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

UM DISCURSO EQUIVOCADO




A passagem recente por Ribeirão Preto e região da caravana do pré-candidato do PT ao Governo do Estado de São Paulo e ex-ministro da Saúde, Alexandre Padilha, contando com a presença do ex-presidente Lula, foi marcada por denúncias infundadas e insultos à inteligência dos representantes do setor sucroalcooleiro. Expressivas lideranças do agronegócio, dentre elas o ex-ministro da Agricultura (do próprio Lula...) Roberto Rodrigues, não pouparam fortes críticas à inação da presidente Dilma Rousseff por não ter dado a devida atenção e respeito a um setor representativo de mais de 20% do PIB brasileiro.

Segundo a imprensa presente ao jantar reunindo as lideranças do setor com o ex-presidente e o ex-ministro da Saúde em Ribeirão Preto, no último dia 7 de fevereiro, Lula e Padilha ficaram constrangidos com o quadro dramático apresentado, dentre outros, pela presidente da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Única), Elizabeth Farina. Segundo ela - conforme também apontei quando da constituição da Frente Parlamentar de Defesa do Setor Sucroenergético, da qual sou um dos coordenadores-, em razão da política de combustíveis predatória imposta através da Petrobras, 44 usinas já fecharam, outras 12 não devem moer a safra 2014/15 e dezenas de milhares de postos de trabalho foram extintos. Dados da Aprobio – Associação Brasileira dos Produtores de Biodiesel revelam: das 67 usinas implantadas a partir de 2004, quando Lula lançou o Plano Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), 27 já foram desativadas.

Já no dia seguinte, num encontro com empresários em Sertãozinho, onde o parque industrial local convive com uma ociosidade beirando os 60% e as agruras da inadimplência das usinas deixando um rastro de milhões de reais não pagos a seus fornecedores, Padilha tentou jogar a culpa da crise dos biocombustíveis no colo do governador Geraldo Alckmin (PSDB).

Todos que conhecem e atuam no setor dos biocombustíveis, sabem: nenhum outro governador apoiou e vem apoiando o setor como ele. A redução do ICMS do etanol hidratado de 25% para 12% viabilizou este biocombustível no Estado de São Paulo. Pena os outros governadores não terem seguido a medida adotada em São Paulo porque ela ajudaria a diminuir os prejuízos acumulados pelos usineiros, pelos produtores de cana e pela indústria de base, insumos, serviços e tecnologia do setor sucroenergético.

Institutos de pesquisa e desenvolvimento têm sido contemplados com várias linhas de financiamento agrícola e industrial. O IAC – Instituto Agronômico de Campinas, por exemplo, desenvolve variedades de cana já encontradas em todos os 14 estados produtores de cana do Brasil, no México e em países africanos. No CTBE – Centro de Tecnologia do Bioetanol, numa parceria com o Ministério de Ciência e Tecnologia, estudos com recursos do Governo do Estado de São Paulo servem para o desenvolvimento do E2G (Etanol de 2ª Geração).

E, mais: para evitar os riscos eminentes de apagões, o governador Alckmin tirou toda a carga tributária para projetos de produção da bioeletricidade, através de térmicas movidas a bagaço de cana. Térmicas estas que poderiam estar produzindo bioeletricidade a R$ 180 o MWh contra os atuais R$ 850 MWh pagos pela geração de energia das térmicas poluentes movidas a diesel.

A ausência de políticas públicas da presidente Dilma Rousseff, além de provocar vultosos prejuízos à Petrobras e Eletrobras, de impor perdas irreparáveis às cadeias produtivas do etanol, do biodiesel e da bioeletricidade, privilegia a importação de etanol de milho dos Estados Unidos e também de diesel.

A gestão dos combustíveis e da eletricidade, bem como o controle da inflação, está nas mãos da esfera federal de governo e não estadual, especificamente do Governo do Estado de São Paulo, conforme tentou demonstrar o desinformado Padilha em seu discurso, para dizer o mínimo, equivocado.
 

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